Conceição do Coité-BA

Histórico
O município de Conceição do Coité está localizado numa área de 1.798 km2, sendo situado no Nordeste Baiano e incluído no polígono das secas. Tem como municípios vizinhos Santa Luz, Queimadas, Barrocas, Serrinha, Araci, Riachão do Jacuípe, Retirolândis e Ichu. Está a uma distância de 240 km da capital Salvador e é composto por cerca de 63 mil habitantes[1] .
A ocupação de Conceição do Coité se deu a partir da concessão das sesmarias, numa região denominada como Sertão dos Tocós. As sesmarias eram concedidas pelos governadores gerais a latifundiários, com o objetivo de que áreas inabitadas fossem povoadas e cultivadas. Estas sesmarias favoreceram a ocupação de áreas inexploradas e consequente povoamento das mesmas.
A partir destas concessões, o governo português concedeu grandes sesmarias no Sertão da Bahia no século XVII. Como uma das primeiras sesmarias concedidas nesta região, estava a sesmaria dos Tocós, pertencendo aos filhos de Antonio Guedes e D. Felipa de Brito-registro datado em 14 de dezembro de 1612. Em 1676, um dos netos do casal citado, Antonio Guedes de Brito, torna-se através de herança de seu pai e doação de parentes, dono de algumas sesmarias, incluindo as fazendas dos Tocós. Antonio Guedes de Brito recebeu o título de Conde do Estado Português, sendo chamado a partir desta graça de Conde da Ponte. Em 1856 o Conde da Ponte organizou um exército particular para descobrir e tomar posse de terras do sertão baiano e foi com o uso de tal força que conseguiu expulsar os índios e tomar posse das terras (BARRETO, 2004).
Com a expulsão destes índios denominados “Tocós” (daí o nome da sesmaria), o Conde da Ponte organizou fazendas para criação de gado e abriu estradas para facilitar as viagens com boiadas. Apesar da expulsão dos índios, na Sesmaria dos Tocós não foi estabelecida nenhuma fazenda devido às condições climáticas desfavoráveis da região. Em 1676, Antonio Guedes de Brito fez uma declaração que enfoca muito bem as condições de estiagem no sertão dos Tocós: “[...] e sendo de mais de quarenta não achar sítio algum que pudesse cultivar-se, nem em todo tempo se pode passar por falta da dita água [...] e também [...] por serem os ditos tocós  muito faltos de água, haverem muitos matos, caatingas infrutíferas[...].” (RIOS, 2003, p. 20-21)
No século XVIII o Sertão dos Tocós era conhecido como Pindá e deste fazia parte as fazendas Tambuatá, Serrinha, Sacco do Moura, Massaranduba, Pindá e Cuyaté. No final deste mesmo século, o Conde da Ponte faleceu e, seus filhos, aos poucos, foram dissolvendo a sesmaria entre os seus descendentes. Neste processo de desenvolvimento, várias fazendas de gado foram estabelecidas nesta região. (RIOS, 2003)
Um desses sítios foi adquirido por Teófilo da Mota, o denominado Pindá. Mais tarde, com a morte de Teófilo, as terras do Sítio Pindá foram divididas entre seus herdeiros e assim surgiram novas denominações para estas terras. Da primeira divisão surgiram Pindá, Bocca de Caatinga, Berimbau e Fazenda Nova. Mais tarde, surgiram subdivisões: Bocca de Caatinga dividiu-se em Bocca de Caatinga, Campinas e Gangorra; a Fazenda Berimbau transformou-se em Berimbau, Angico e Algodões. Havia também a Fazenda Santa Rosa e esta foi subdividida em Santa Rosa, Paulista e Floresta; A Fazenda Nova, por sua vez, foi dividida em Fazenda Nova, Pedra Branca, Cavalo Morto, Santa Cruz, Itapororocas e finalmente as terras denominadas de Arraial do Coité.
Neste cenário, onde surgiram as fazendas citadas acima, estava a Fazenda Coité, que foi negociada pelos herdeiros dos Guedes chegando até o domínio do proprietário Joaquim de Souza Benevides que após comprar as partes de D. Maria Carvalho da Cunha e Manoel Antonio dos Santos, conseguiu unificar as terras.
Conceição do Coité também aparece em alguns trabalhos regionais como pasto excelente para o gado e ponto de descanso para viajantes que seguiam em direção às minas de Jacobina. Com a descoberta das minas do Rio de Contas e Jacobina no século XVII, houve a necessidade de abrir novas estradas; e nesse percurso, a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité tornou-se ponto de repouso. Sobre isto, Vanilson Oliveira diz o seguinte:

Uma dessas estradas, abertas por Garcia d’Avilla e outros, grandes criadores de gado no Alto Sertão, entre os anos de 1654 e 1698, para condução de suas boiadas, é retificada e melhorada pelo Coronel Pedro Barbosa Leal, em 1720, quando fundou a vila de Santo Antonio de Jacobina, cortava o Sertão dos Tocós, também chamado do Pindá, onde ficava o arraial de Água Fria, e as fazendas do Sacco do Moura, Serrinha, Tambuatá, Massaranduba, Pindá, Coité. Etc. Em Serrinha tomava as direitas pela Fazenda Raso, hoje vila Aracy, para Geremoabo e Pontal no Rio São Francisco, e no Tanque do papagaio, adiante de Cuyaté[...] (OLIVEIRA, 2002, p.11).

Ainda no século XVIII, por volta de 1756 tiveram início as obras da capela de Nossa Senhora da Conceição do Coité, construída nas terras doadas por João Benevides à santa de sua devoção. Mais tarde, esta capela foi doada à Igreja Católica juntamente com uma área de terra. A construção desta capela foi um fato marcante para o surgimento do arraial no século XIX, no mesmo momento em que foi criado o Município de Jacobina em 25 de maio de 1847, por Dom Antonio Inácio de Azevedo, Vice- presidente da Província da Bahia. Junto com a criação de Jacobina, surgiu também a Freguesia de Nossa Senhora do Riachão do Jacuípe integrando as capelas de Nossa Senhora do Gavião e de Nossa Senhora da Conceição do Coité.
Com o passar do tempo, a Fazenda Coité ganhou desenvolvimento devido a sua localização, e assim houve a organização de uma feira livre realizada nos dias de sexta-feira. Nesta feira eram comercializados escravos, animais e cereais, e os produtos que sobravam eram enviados a Feira de Santana para serem vendidos na feira de lá no dia de segunda. Fica claro que a escolha do dia da feira de Coité foi estratégica. (GORDIANO, 2011)
Em 1808, após a morte de Joaquim Benevides, seu filho João Benevides, vendeu a Fazenda Coité ao Sr. Manoel Mancio da Cunha e este, juntamente com sua família veio morar nestas terras. Até cerca de 1855, a Fazenda Coité pertencia ao domínio de Água Fria, deixando essa realidade quando alcançou a categoria de freguesia pela Resolução Provincial de 09 de maio de 1888 sob o nº 539. A partir deste momento, Coité passou a pertencer a Villa de Feira de Sant’Anna. Com a fundação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité, foi regida sua primeira delimitação territorial no 2º artigo da Resolução,

A nova Freguesia se limitará da maneira seguinte: Pelo sul, começará a limitar com a Freguesia de Riachão do Jacuípe pelo rio Tocós, seguindo por este abaixo a Fazenda Poços e desta ao Rio Jacuípe, passando pelas Fazendas Poço de Cima, Getiranas, Almas e Lage de Dentro. Pelo norte e noroeste, se extremará com a Freguesia de Queimadas pelo Rio Jacuípe, seguindo por este acima até Cachoeirinha, a margem do mesmo rio, d’ahi em linha recta, até a Fazenda Baixa da Madeira na estrada do Piauhi, desta a Fazenda Morro do Lopes e Serra Branca; e desta a Fazenda Trindade e desta pela estrada direita a Fazenda Pedra Alta. Pelo leste, se limitará com Tucano pela Fazenda Capim, até o Rio Poço Grande e por este acima até a Fazenda do mesmo nome. Pelo sueste, extremará com a Freguesia da Serrinha pela Fazenda Serra Vermelha e Salgada na estrada da Serrinhae d’ahi se encontrar com o Riacho Pau-a-Pique e por este até o ponto divisório do rio Tocós (RIOS, 2003, p. 24-25).

Em 1890, a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Coité é desmembrada da Vila de Feira de Sant’Anna pelo Ato Estadual de 18 de dezembro, ficando, assim, ligada a Vila de Nossa Senhora de Riachão do Jacuípe, porém, apenas em termos eclesiásticos. Todavia, em 1931, Coité volta a integrar o Município de Riachão por conta da Lei de organização municipal que suprimiu municípios com menos de 20 mil habitantes e arrecadação insuficiente.
Coité conseguiu se restabelecer em 1933, quando o governador da Bahia, Juracy Magalhães, concedeu através do Decreto de nº 8.528 de 07 de julho do ano citado. Em 30 de maio de 1938 a antiga freguesia é elevada à categoria de cidade pelo decreto de nº 10.724.
Ao analisar a história da formação de Coité, foi possível identificá-la como uma sociedade em constante construção com modelos e relações singulares, onde evidenciam suas particularidades, estando articulada com o processo de formação da nação brasileira. Assim, faz-se necessário afirmar que quando se escreve a história da região dos Tocós, mais especificamente a de Coité, não se faz apenas uma história a nível regional, mas, principalmente, é acrescentado um capítulo na história do Brasil.



[1] Dados obtidos do Censo de 2010.

FONTE: SOUZA, Edimária Lima de Oliveira. Vestígios no tempo: escravidão e liberdade em Conceição do Coité (1869-1888), (MONOGRAFIA), Conceição do Coité-BA, 2012, pp. (13-16) Ver monografia completa                                                                                                                                           

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